A importância de Joaquim Nabuco no Brasil durante o século XIX e início do século XX é bastante evidente, pois suas ações desempenharam um papel crucial na abolição da escravatura. Ele é autor de obras famosas, mas curiosamente menos conhecidas, como “Abolicionismo” e “Minha Formação”. Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo nasceu em Recife em 19 de agosto de 1849 e faleceu em Washington, Estados Unidos, em 17 de janeiro de 1910. Nabuco foi um político, diplomata, historiador, jurista, orador e jornalista brasileiro formado pela Faculdade de Direito do Recife. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Na data de seu nascimento, 19 de agosto, é comemorado o Dia Nacional do Historiador.
Nesta análise, encontramos insights sobre como Nabuco via a república no Brasil e como ele manteve seu pensamento monárquico. Pela sua perspectiva, vemos as queixas atuais sobre uma república que não consegue alcançar a estabilidade que o regime anterior alcançou, razão pela qual ele a admira tanto. Isso é observado nas obras do autor “O Dever dos Monarquistas” e “Por que continuo Monarquista”, que serão utilizadas para compreender a mentalidade de Nabuco.
A obra “O Dever dos Monarquistas” foi uma carta escrita por Joaquim Nabuco em 1895 ao Almirante Jaceguay, na qual defende fortemente a Monarquia Constitucional como forma de governo. Nesta carta, Joaquim Nabuco responde a uma pergunta feita pelo almirante Jaceguay sobre sua persistência como monarquista após a queda da monarquia em 1889. Nabuco dá uma resposta sincera, enfatizando seu profundo amor pelo Brasil. Ele aborda questões raciais, comparando a situação dos negros nos Estados Unidos, no Império do Brasil e nas monarquias europeias. Nabuco expõe o racismo enfrentado pelos negros nos Estados Unidos e destaca o seu desafiador avanço social na “grande República do Norte”.
Nabuco pergunta: “(…) Nos Estados Unidos, seria possível um mulato, não importa seu gênio, chegar à posição de realeza literária? (…)” – aqui, ele faz uma referência a Machado de Assis.
Com a leitura da carta, é possível perceber que, no Brasil Imperial, houve notável ascensão social de negros e pardos em diversas áreas, incluindo jornalismo, literatura, direito, política, engenharia, medicina, educação, ciência e religião. Durante o Segundo Reinado, não houve barreiras intransponíveis ao reconhecimento do talento e do brilhantismo, como evidenciam exemplos como Machado de Assis, André Rebouças, José Maria da Silva Paranhos, Eusébio de Queiroz e outros membros da classe média mestiça, classe que é reconhecida até hoje.
Além disso, Joaquim Nabuco aborda não apenas as virtudes sociais, mas também as virtudes políticas da Monarquia na carta. Em uma passagem, ele escreve:
“(…) Tenho certeza de que a função benéfica da monarquia no Brasil foi esta: descoberta, conquista, povoamento, cristianização, construção, cultivo, organização, defesa costeira, expulsão de estrangeiros, unificação e preservação territorial; administração, estabilidade, perfeita ordem interna; independência, unidade política, sistema parlamentar, senso de liberdade, orgulho do caráter brasileiro, inviolabilidade da imprensa, força da oposição, direitos das minorias; habilidade, aptidão, moralidade administrativa; vocação política desinteressada; crédito, reputação, igualdade civil entre raças, abolição pacífica da escravatura; glória militar, renúncia ao direito de conquista, arbitragem internacional; a cultura literária e científica mais forte da América Latina; finalmente – como o ideal realizado da democracia antiga, o governo do melhor homem – um reinado de Péricles de meio século.”
Em “O Dever dos Monarquistas”, Joaquim Nabuco elogia o sistema monárquico federal por proporcionar estabilidade política ao Brasil há mais de meio século. Argumenta que a federação era viável sob a Monarquia, uma vez que o Chefe de Estado não tinha interesse em minar a autonomia das províncias em prol do seu sucessor ou partido, ao contrário dos presidentes da República. Nabuco conclui a carta com uma reflexão profunda e verdadeira.
“(…) Sei que a restauração da monarquia é tão difícil quanto a restauração da religião, da família e da sociedade na política. Porém, nada é mais raro do que a capacidade de discernir o que está morto daquilo que está apenas interrompido. Quem sabe por que renovação misteriosa uma planta não estará passando sob a terra brasileira, a planta que por tanto tempo lhe deu sombra?”
Joaquim Nabuco acreditava, como se vê em seus pensamentos em "Por que Continuo a Ser Monarquista", que a monarquia parlamentar só poderia ter, como sucessora revolucionária, a ditadura militar quando sua legítima sucessora evolutiva fosse a democracia civil. Ele pensava que a república no Brasil seria a pseudo-república que é em toda a América Latina, desde a época em que viveu Joaquim Nabuco. Nabuco já relatava, antes de escrever "Por que Continuo a Ser Monarquista", que a república não poderia funcionar como um governo livre e que, a partir do dia em que fosse proclamada, a confiança que o Império do Brasil levou tantos anos para adquirir desapareceria, e a liberdade dentro da lei do Império era intocável.
Nabuco afirma: “Certa vez expressei na Câmara, frase que só lembro porque teve a honra de ser comentada no Senado, que no Brasil era preciso mais coragem para alguém se declarar monarquista do que republicano. Não me referia à tolerância ou à preferência da monarquia pelos republicanos, mas à dificuldade de apoiar uma instituição visivelmente degenerada pelo ceticismo de quem a serviu, contra outra que parecia ter fé.”
A denúncia sobre o sistema político republicano deixa qualquer um atônito quando Nabuco deixa claro que, a seu ver, envolvia longas prisões sem o devido processo, deportações e banimentos por influência política. Além disso, afirma que nos países latino-americanos, uma república é um governo onde é essencial abrir mão da liberdade para alcançar a ordem.
Com base nos textos de Joaquim Nabuco, podemos observar que não tivemos estabilidade política desde o início do sistema republicano em nosso país. Vemos um monarquista que se recusa a se tornar republicano por não ter esperança de liberdade. Lembrando que as duas obras de Nabuco são respostas a outras pessoas que desafiaram seu pensamento monárquico mesmo após o fim do regime no Brasil. Ainda há hoje quem discorde dos textos de Joaquim Nabuco e prove que a solução para o Brasil pode estar nas reformas passadas e atuais do nosso sistema presidencialista?
Referência: NABUCO, Joaquim. O Dever dos Monarquistas. Brasil: Tip. Leuzinger, 1895.
NABUCO, Joaquim. Porquê Continuo A Ser Monarquista. Brasil: Patris Editora, 2022.
Matheus Araújo
Matheus é empresário da Araujo Media, onde atua como CEO e Diretor de Criação. Ele compartilha análises em seu blog pessoal “matheusaraujo.me” e atualmente faz graduação em Publicidade e Propaganda. Além disso, tem paixão por História, principalmente pela História do Brasil, o que o levou a se tornar o fundador e editor do portal Brazilian History.