A Bossa Nova nasceu oficialmente em 10 de julho de 1958, quando João Gilberto gravou a música 'Chega de Saudade' no Odeon estúdios. Os arranjos foram feitos por Antonio Carlos Jobim, que também dirigiu a orquestra. “Aquele novo jeito de cantar e tocar de João Gilberto alegrou tudo”, resume o escritor Ruy Castro.

A história da música 'Chega de Saudade'

O disco “Canção do Amor Demais”, gravado três meses antes, em abril de 1958, por Elizete Cardoso, não foi o que introduziu a Bossa Nova, apesar da opinião de uma minoria. Apesar do repertório, inteiramente composto por músicas da dupla Tom Jobim e Vinícius de Moraes, e a atuação do violão de João Gilberto em duas faixas, incluindo “Chega de Saudade”, Elizete, cantora de grande prestígio, não tinha o perfil musical condizente com as mudanças que pulsavam nessas músicas.


Tom havia composto o que pretendia ser um chorinho em duas partes na propriedade rural de sua família. Ao retornar ao Rio, procurou Vinícius de Moraes, com quem acabara de compor as músicas da peça “Orfeu da Conceição”, encenada no mesmo ano de 1958, no Theatro Municipal, a quem mostrou a música que compôs na propriedade.

Em crônica publicada no jornal Última Hora, dez anos depois, Vinícius relembrou o encontro com a companheira:

“Tom repetiu isso cerca de dez vezes. Era completamente charmoso, com uma trama melancólica e melancólica, e um chorinho bastante lento no espírito. Fiquei encantado com a melodia e ficava sempre cantarolando em casa, esperando a deixa para a poesia. Aquilo, de fato, me pareceu uma música realmente nova, original, totalmente diferente de tudo o que veio antes, mas tão brasileira quanto qualquer choro de Pixinguinha ou samba de Cartola. Um samba que dava voltas e reviravoltas, onde cada compasso era uma reclamação de amor, cada nota uma saudade de alguém distante.

“Mas a letra não veio. De vez em quando, sentava-me à minha mesa em frente à janela que dava para o Corcovado e tentava. Mas isso não aconteceu. Acho que em toda a minha vida como letrista nunca fui espancado daquele jeito. Fiz dez, vinte tentativas.


“Teve um momento em que considerei o samba pronto, exceto os dois últimos versos da primeira parte, que eu conhecia, mas não combinavam com a música, em termos de relação sílaba a sílaba. Eu estava ficando furioso porque o Tom, embora não ligasse reclamando de nada, estava esperando o resultado.

“Uma manhã, depois da praia, de repente veio a resolução. Fiquei tão feliz que até gritei de alegria, o que assustou muito minhas duas filhinhas. Cantei e recantei o samba, prestando atenção em cada detalhe, na cor das palavras correspondentes à música, na acentuação dos acentos, nas questões respiratórias dos versos, tudo.

“Quis, depois dos sambas do Orfeu, apresentar ao meu parceiro uma letra digna da sua nova música porque senti que era nova, caminhando numa direção que não sabia nomear, mas cujo nome estava implícito na criação. Foi verdadeiramente o nascimento da bossa nova, pedindo apenas, na sua interpretação, a divisão que João Gilberto descobriria logo depois.

“Intitulei-o de 'Chega de Saudade', usando um de seus versos. Liguei para Tom e pulei para o apartamento dele. O jovem maestro sentou-se ao piano e eu cantei o samba para ele duas ou três vezes e ele não disse nada. Então, eu o vi pegar o papel, colocá-lo no pedestal do piano e cantá-lo sozinho. E logo, chame a esposa em tom vibrante, 'Teresa!'”.


Referência: CASTRO, Rui. Chega de saudade. Brasil: Companhia das Letras, 2016.


Brazilian History
Matheus Araújo
Idealizador e Editor no Brazilian History | Local na rede Internet

Matheus é empresário da Araujo Media, onde atua como CEO e Diretor de Criação. Ele compartilha análises em seu blog pessoal “matheusaraujo.me” e atualmente faz graduação em Publicidade e Propaganda. Além disso, tem paixão por História, principalmente pela História do Brasil, o que o levou a se tornar o fundador e editor do portal Brazilian History.