A Guerra do Paraguai, ocorrida entre 1864 e 1870, foi uma das guerras mais brutais da história da América do Sul. Envolveu a Tríplice Aliança, composta por Argentina, Brasil e Uruguai, contra o Paraguai. O Brasil entrou na guerra devido à apreensão do navio Marquês de Olinda no Rio Paraguai e à invasão de tropas paraguaias no Mato Grosso. A Argentina também declarou guerra ao Paraguai após a invasão paraguaia na região de Corrientes.
O canhão paraguaio “El Cristiano” construído durante a Guerra do Paraguai e entregue ao exército paraguaio, participou da Batalha de Curupaiti em 22 de setembro de 1866. Em 1870, durante a batalha final do conflito, o exército brasileiro apreendeu o canhão por considerá-lo um símbolo da guerra e da vitória do exército brasileiro. O canhão foi forjado com o material de vários sinos de igrejas paraguaias (daí o nome “El Cristiano”) e, devido às suas dimensões, é considerado um dos maiores canhões fabricados no século XIX. Atualmente, “El Cristiano” está exposto no Pátio Epitácio Pessoa do Museu Histórico Nacional.
Após o fim da Guerra do Paraguai e a vitória dos Aliados, as Forças Armadas brasileiras trouxeram diversos espólios de guerra, entre documentos, troféus, bandeiras, espadas e o canhão “El Cristiano”. Essa prática de colecionar itens como lembranças de guerra é comum desde o início das guerras. Da mesma forma, no Paraguai, também há armas e o navio brasileiro “Anhambaí” exposto nos museus daquele país como parte das relíquias da guerra.
Durante a construção da hidrelétrica de Itaipu, grande parte do material bélico trazido ao Brasil foi devolvido como um gesto de boa vontade do governo brasileiro. Isso incluiu o perdão da dívida do Paraguai com o Brasil. No entanto, o canhão “El Cristiano” foi um dos poucos souvenirs de guerra que restaram no Brasil e hoje está exposto no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro. Em 1998, todo o acervo museológico foi oficialmente tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) por meio do Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937.
Após a declaração como patrimônio nacional, somente o Presidente da República tem autoridade para reverter esta decisão. Nos últimos anos, houve debates sobre o possível retorno do canhão “El Cristiano” ao Paraguai. Em 2010, o então vice-presidente do Paraguai, Federico Franco, exigiu a devolução do canhão e, três anos depois, quando assumiu a presidência, reiterou sua posição, afirmando que não haveria paz até que o canhão fosse recuperado.
O presidente Lula, em resposta a Franco em 2010, pediu ao Ministério da Cultura que considerasse a devolução do canhão ao Paraguai. O Ministério da Cultura sugeriu na época que o retorno estava sendo reconsiderado para que o canhão pudesse fazer parte de uma cooperação mutuamente benéfica entre os dois países, como a criação de um museu.
O canhão “El Cristiano”, objeto de disputa entre Brasil e Paraguai, não foi devolvido devido à resistência de historiadores e militares que o consideram patrimônio histórico nacional. No entanto, o governo paraguaio continua reivindicando a posse do canhão “El Cristiano”.
Isso levanta questões sobre a devolução de espólios de guerra por outros países e se o Paraguai consideraria devolver as armas brasileiras e o navio brasileiro “Anhabahy”. Além disso, o retorno do canhão poderia estreitar as relações entre Brasil e Paraguai, permanecendo uma questão não resolvida.
Referência: G1. 'El Cristiano': canhão paraguaio que Assunção quer de volta pode ser visto de graça no museu do Rio. Brasil, 19 de agosto de 2022. Disponível em: 'El Cristiano': canhão paraguaio que Assunção quer de volta pode ser visto de graça no museu do Rio | Rio de Janeiro | G1 (globo.com). Acesso em: 20 de agosto de 2023.
Wikipédia. El Cristiano. Brasil, [sd]. Disponível em: El Cristiano – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org). Acesso em: 20 de agosto de 2023.
História Militar Online. O Canhão El Cristiano EA Guerra Do Paraguai. Brasil, 19 de janeiro de 2019. Disponível em: O canhão El Cristiano e a Guerra do Paraguai – História Militar Online (historiamilitaronline.com.br). Acesso em: 20 de agosto de 2023.
Matheus Araújo
Matheus é empresário da Araujo Media, onde atua como CEO e Diretor de Criação. Ele compartilha análises em seu blog pessoal “matheusaraujo.me” e atualmente faz graduação em Publicidade e Propaganda. Além disso, tem paixão por História, principalmente pela História do Brasil, o que o levou a se tornar o fundador e editor do portal Brazilian History.
