O livro O Abolicionismo, de autoria de Joaquim Nabuco, foi concluída em 1883, no período em que vigoraram diversas leis para restringir a escravidão no território nacional. No entanto, ainda faltavam cinco anos para a abolição total da escravatura. É parte integrante da campanha abolicionista, da qual Nabuco foi talvez o principal defensor branco durante décadas. O livro tem um valor imensurável para a compreensão do longo processo histórico, econômico e político que acabou levando ao fim da escravidão, bem como a resistência e os interesses em jogo na segunda metade do século XIX.
Neste livro, Joaquim Nabuco enfatiza a importância da liberdade individual usurpada pela escravidão e destaca a ineficiência da Igreja Católica no combate à escravidão. Ele revela que a Igreja nada fez para impedir os inúmeros leilões de escravos ocorridos no território nacional ou o regime religioso nas senzalas, apesar de exercer imenso poder em um país ainda fortemente influenciado pelo fanatismo religioso. O Abolicionismo traz um relato detalhado do fim da escravidão na Inglaterra e nos Estados Unidos da América, mostrando o desejo de Joaquim Nabuco de reconstruir o Brasil com base no trabalho livre e na unidade das raças em liberdade.
A raça negra desempenhou um papel marcante na construção do Brasil, fato evidenciado em O Abolicionismo. Podemos testemunhar como os Correios, Hospitais, Casas dos Senhores, Igrejas e Escolas dependiam da raça negra para sua existência. Nabuco enfatiza fortemente que o movimento abolicionista não apoiou uma guerra civil para tais mudanças, como ocorreu nos Estados Unidos. Uma menção notável no livro de Nabuco é a libertação dos escravos no Paraguai pelo Conde d'Eu no final da Guerra do Paraguai, o que reforça a ideia de que a família imperial era ferrenhamente contrária à escravidão. Nabuco cita explicitamente Dom Pedro II, afirmando que, se dependesse dele, a escravidão teria acabado muito antes.
Joaquim Nabuco declara-se um liberal em seu livro; no entanto, vejo muitos conservadores com canais no YouTube, blogs e páginas de mídia social alegando que ele era conservador, mas isso não passa de uma falácia. Prefiro acreditar no que Joaquim Nabuco escreveu do que no que os outros dizem, e recomendo vivamente o seu livro chamado minha formação, onde sua postura liberal fica ainda mais clara.
No O Abolicionismo, é evidente que Joaquim Nabuco se incomodava com a emancipação gradual, mas exorta os escravos a confiarem no processo e afirma que poderá render frutos no futuro.
O Abolicionismo é um livro de leitura lenta devido ao seu português elaborado e pode exigir repetições, mas é altamente recomendado para quem deseja se aprofundar na abolição da escravatura, na identidade nacional e, claro, na mente magnífica de Joaquim Nabuco. É um livro incrivelmente focado e meticuloso que fornece claramente as respostas que buscamos em relação ao movimento.
Referência: NABUCO, Joaquim. O Abolicionismo. Brasil: SciELO – Centro Edelstein, 2011.
Matheus Araújo
Matheus é empresário da Araujo Media, onde atua como CEO e Diretor de Criação. Ele compartilha análises em seu blog pessoal “matheusaraujo.me” e atualmente faz graduação em Publicidade e Propaganda. Além disso, tem paixão por História, principalmente pela História do Brasil, o que o levou a se tornar o fundador e editor do portal Brazilian History.
