Maria Leopoldina nasceu em 1797, em uma das casas reais mais conservadoras da Europa. Sua educação visava não apenas o desenvolvimento pessoal, mas também o dever político.

A cultura e a educação rigorosas de uma arquiduquesa austríaca estavam entre os principais critérios para que um príncipe tivesse uma ao seu lado. Leopoldo II, avô da arquiduquesa Leopoldina, estabeleceu as diretrizes para a educação dos príncipes dos Habsburgos. Ele acreditava que as crianças deveriam, desde cedo, ser inspiradas a cultivar qualidades elevadas como humanidade, compaixão e o desejo de fazer o povo feliz.


Imperatriz Leopoldina: Uma Vida Moldada por uma Educação Rigorosa

O currículo dos arquiduques incluía disciplinas como leitura, escrita, alemão, francês, italiano, dança, desenho, pintura, história, geografia e música. No módulo mais avançado, ensinava-se matemática — incluindo aritmética e geometria. Além disso, esse nível avançado incluía literatura, física, latim, canto e artesanato.

A rotina diária de Leopoldina era a seguinte: ela acordava por volta das sete horas e ia à igreja às oito. Normalmente, das nove às dez horas, estudava uma matéria específica com a professora, seguida por outra aula das onze ao meio-dia, sobre uma matéria diferente. Ela descansava do meio-dia às três horas, quando retomava os estudos até as oito da noite. É claro que as matérias se alternavam ao longo da semana, e ela geralmente seguia esse cronograma de segunda a sábado.

Desde cedo, Leopoldina demonstrou grande dedicação e apreço pelas ciências naturais, em particular pela mineralogia. A arquiduquesa herdou o hábito de colecionar do pai: mantinha uma coleção de moedas, plantas, flores, minerais e conchas. Durante uma visita à Universidade de Praga, a arquiduquesa descobriu uma seção da biblioteca dedicada à mineralogia. Leopoldina escreveu em seu diário sobre essa visita, dizendo que poderia passar horas lá dentro se lhe permitissem, e que sua estadia na cidade expandiu significativamente sua coleção de minerais.

Agora, uma curiosidade inusitada: foi durante essa mesma visita que Leopoldina foi assaltada. Isso mesmo — a arquiduquesa, que vagava livremente pela cidade sem escolta adequada, teve sua carruagem roubada por um morador de Praga. Ela registrou em seu diário que aguardava resgate em uma cabana precária e que seus pés estavam completamente encharcados.


Imperatriz Leopoldina Uma Vida Moldada por uma Educação Rigorosa
A família de Leopoldina nos jardins do Castelo de Laxenburg. A arquiduquesa é a segunda da direita para a esquerda, apontando para o castelo. – Imagem: Johann Nepomuk / Coleção da Biblioteca Nacional da Áustria – Viena.

Outro hábito adotado pelos Habsburgos era participar de peças de teatro, óperas e balés. Além do entretenimento, isso servia como treinamento inicial para falar em público. Por meio dessas experiências, as crianças perdiam a timidez diante de uma plateia e praticavam a fala e a projeção da voz, habilidades essenciais para figuras públicas.

O cotidiano de Leopoldina era meticulosamente planejado, incluindo aulas, orações, cartas e visitas familiares. A família valorizava o trabalho com a terra e o cultivo dela. Não por acaso, tanto em sua residência de verão em Laxenburg quanto em Palácio de Schönbrunn, havia jardins onde os príncipes podiam cultivar até quatrocentos tipos de plantas. Era muito comum ver Leopoldina e sua família no terraço do palácio transplantando flores e colhendo mudas, até mesmo de flores enviadas por parentes.

Cada arquiduque tinha sua própria casa. No caso de Leopoldina, duas mulheres desempenhavam papéis importantes em seu pequeno mundo. Uma era Maria Ulrica, a principal dama de companhia, responsável por ensinar boas maneiras, etiqueta e práticas cerimoniais, além de supervisionar seus estudos. A outra era Francisca Annony, que cuidava das roupas, higiene e cuidados pessoais da arquiduquesa. Francisca fora sua criada desde a infância e nutria grande afeição por ela.

Essas duas mulheres permaneceram com Leopoldina Durante toda a sua infância e parte da sua juventude. Como era comum entre a nobreza e as classes altas, a arquiduquesa nunca ficava sozinha, nem mesmo enquanto dormia. Isso pode parecer estranho para nós hoje, mas o conceito moderno de privacidade não se aplicava naquela época, especialmente para alguém da nobreza de Leopoldina, que estava sempre acompanhada. Mesmo durante os horários em que escrevia cartas, ela nunca estava sozinha.

Imperatriz Leopoldina: Uma Vida Moldada por uma Educação Rigorosa
Leopoldina, Arquiduquesa da Áustria e Princesa Real do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. – Imagem: Jean-François Badoureau / Acervo do Museu Imperial – Petrópolis

A madrasta de Leopoldina era profundamente dedicada à educação dos filhos que herdara do casamento anterior do marido. Ela supervisionava pessoalmente os estudos deles e chegava a puni-los quando se recusavam a estudar. Leopoldina recebeu o catecismo e fez sua primeira comunhão. Em 1810, ingressou na Ordem da Cruz Estrelada, uma ordem aristocrática e exclusivamente feminina. Seus membros eram dedicados à oração, à veneração da Santa Cruz, à vida virtuosa, à assistência espiritual e às obras de caridade.


A Europa estava longe de ser pacífica na época. A irmã de Leopoldina era casada com Napoleão — e creio que não preciso me aprofundar muito nele, visto que ele é uma figura histórica conhecida que mergulhou o continente em guerras. Por causa disso, a saúde da madrasta de Leopoldina piorou, agravada pela fuga de Viena e pelo fato de sua enteada ser casada com o homem que estava trazendo o caos ao mundo. Como resultado, ela decidiu levar Leopoldina consigo para a cidade termal de Karlsbad, na esperança de que o novo ar lhe restaurasse a saúde.

Em Karlsbad, Leopoldina não se limitava a aproveitar as férias. Ela participava de excursões de estudo, visitando plantações, fazendas de gado, fábricas, estufas, fundições e minas, além de museus, jardins botânicos e armários de curiosidades. Após cada visita, escrevia relatórios detalhados. Dessa forma, ela expandia seu universo — não apenas cientificamente, mas também interagindo com uma variedade de pessoas: trabalhadores, agricultores e até mineradores.

A estadia em Karlsbad também serviu como uma espécie de afastamento estratégico da corte vienense enquanto as negociações políticas estavam em andamento. Diplomatas austríacos, como o influente Príncipe Metternich, trabalhavam nos bastidores para organizar o noivado de Leopoldina com Dom Pedro. A viagem a Karlsbad distanciou Leopoldina temporariamente dos olhares curiosos e dos sussurros de Viena — mas também a aproximou da realidade das negociações internacionais de casamento. Esse processo levou tempo e, durante as negociações, o pai de Leopoldina chegou a solicitar livros de português para que a filha pudesse começar a estudar o idioma de que precisaria nos anos seguintes.

A infância e a juventude de Maria Leopoldina revelam não apenas uma educação exemplar, mas também a formação de uma mulher preparada para um grande destino. Sua trajetória de estudo, disciplina e sensibilidade moldaria uma arquiduquesa que, muito em breve, cruzaria o oceano para escrever seu nome na história do Brasil.



Referência: REZZUTTI, Paulo. D. Leopoldina: a história não contada: A mulher que arquitetou a independência do Brasil. Brasil: Leya, 2022.

Matheus Araújo - Brazilian History
Matheus Araújo
Idealizador e Editor no Brazilian History | Local na rede Internet

Matheus Araújo é idealizador e editor da Brazilian History. Natural do Rio de Janeiro e formado em Publicidade e Propaganda, a sua paixão por história fez com que ingressasse na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e atualmente está cursando Licenciatura em História.