Um dos principais grupos de combate do Brasil durante Segunda Guerra Mundial foi, sem dúvida, o 1º Grupo de Aviação de Caça. Este grupo de aviação foi criado pelo Decreto Presidencial nº 6.123 em 18 de dezembro de 1943, e o Tenente-Coronel Nero Moura, piloto pessoal e homem de confiança de Vargas, foi nomeado seu comandante. O grupo era composto inteiramente por voluntários. Em janeiro de 1944, os pilotos selecionados partiram para a Escola Tática Aérea em Orlando, Estados Unidos, enquanto o pessoal de terra — incluindo mecânicos e especialistas em armas — seguiu para a base de Halbrook Field, no Panamá. Após a conclusão do curso, os pilotos também se mudaram para o Panamá, onde começaram a operar caças Curtiss P-40C, recebendo treinamento tático como uma unidade completa.
Durante o treinamento, surgiu o icônico grito de guerra que veio a simbolizar a unidade da Força Aérea Brasileira: “Senta a Pua!”, uma gíria da época que significava “mete bala!”. Em 11 de maio de 1943, o grupo começou a operar de forma independente dentro do sistema de defesa do Canal do Panamá. Com a presença do Ministro da Aeronáutica, Salgado Filho, em 20 de junho, o grupo recebeu seus certificados de graduação americanos e, seis dias depois, embarcaram para Nova York, chegando em 4 de julho, Dia da Independência dos Estados Unidos. Os pilotos foram enviados para a Base Aérea de Suffolk, perto de Nova York, para três meses de treinamento na aeronave que o grupo usaria em combate — os lendários Republic P-47D Thunderbolts.
Naquela ocasião, os integrantes do grupo enfrentaram um desafio que já demonstrava as habilidades de improvisação típicas dos brasileiros. Durante a cerimônia de formatura e desfile de boas-vindas, as tropas americanas cantaram o hino de sua Força Aérea. Momentos antes do desfile brasileiro, como ainda não havia hino para a recém-criada Força Aérea, o chefe do destacamento, Capitão Marcílio Gibson, ordenou que as tropas cantassem “A Jardineira”, um velho sucesso carnavalesco conhecido por todos através da interpretação de Orlando Silva. Assim, a velha marcha carnavalesca, composta em 1906 por Benedito Lacerda e Humberto Porto, foi cantada com todo o vigor pelos aviadores e serviu como hino informal do Senta a Pua!:
“Oh, jardineira, por que você está tão triste…”
Noventa dias depois, com o treinamento concluído, era hora de seguir para o front. O grupo embarcou no SS Colombie com destino à Itália, chegando a Nápoles em 4 de outubro de 1944. Durante a viagem, foi criado o símbolo do grupo: um avestruz. Pode parecer estranho que uma ave nem brasileira nem capaz de voar tenha se tornado o emblema pintado no nariz dos aviões do 1º Grupo de Caça (I° GAvCa). A escolha surgiu de um incidente engraçado quando os pilotos reclamaram da dificuldade de adaptação à dieta americana: muito feijão doce, ovos com bacon, salsichas e suco de toranja. De acordo com o gosto brasileiro, os integrantes do 1º Grupo de Caça precisavam de um estômago de avestruz para lidar com aquela comida. Assim, o artista do grupo, Capitão Fortunato Câmara de Oliveira, esboçou o pássaro que come de tudo, que se tornou o símbolo visual do Senta a Pua!
Após um dia ancorado, o Iº GAvCa zarpou para Livorno, onde aportou em 6 de outubro, e então seguiu para Tarquinia, cidade localizada a 150 quilômetros de Roma. O Senta a Pua! começou a operar como o quarto esquadrão, juntando-se aos outros três esquadrões americanos que faziam parte do 350º Grupo de Caça da Força Aérea do Exército dos EUA, e foi designado como o 1º Esquadrão de Caça Brasileiro. Inicialmente, o grupo realizou missões de reconhecimento para se adaptar aos sistemas de comando e comunicação. Esta unidade aliada iniciou suas operações no Norte da África e se expandiu para a Itália conforme as operações progrediam.
As ações do grupo contribuíram para consolidar a imagem do Brasil como um aliado comprometido, marcando sua estreia em combate internacional e estreitando relações com países aliados. Além disso, o 1º Grupo de Aviação de Caça (1º GAvCa) destacou-se pela eficiência, com notável índice de precisão e reconhecimento internacional, ganhando diversas condecorações e honrarias.
Referência: BARONE, João. 1942: O Brasil e sua guerra quase desconhecida. Brasil: HarperCollins, 2018.
Matheus Araújo
Matheus é empreendedor na Araujo Media, onde atua como CEO e Diretor de Criação. Ele compartilha análises em seu blog pessoal "blog.matheusaraujo.me" e atualmente está cursando Publicidade e Propaganda. Além disso, é apaixonado por história, em especial a do Brasil, o que o levou a se tornar fundador e editor do portal Brazilian History.
