O livro 1942: O Brasil e sua Guerra Quase Desconhecida, escrito por João Barone, oferece uma análise detalhada da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial, um capítulo da nossa história frequentemente esquecido. Barone, músico e pesquisador, também é filho de um ex-soldado da Força Expedicionária Brasileira (FEB), e sua obra reflete uma abordagem pessoal e completa da experiência de soldados brasileiros que foram para a guerra.
A narrativa é dividida em duas partes principais: primeiro, o contexto histórico e diplomático que levou o Brasil a se aliar aos Aliados em meio à Segunda Guerra Mundial, e, segundo, a atuação direta das tropas brasileiras no conflito. Em 1942, Getúlio Vargas se viu pressionado entre as influências dos Estados Unidos e da Alemanha, principalmente após os ataques de submarinos alemães a navios brasileiros, o que gerou grande indignação pública e foi um fator crucial para que o país declarasse guerra ao Eixo.
Barone também explora os desafios enfrentados pelos soldados brasileiros, que frequentemente tinham que lidar com treinamento inadequado, armamento limitado e preparação física e psicológica precária. No entanto, a FEB passou a desempenhar um papel significativo em batalhas importantes, particularmente nas montanhas da Itália, onde pracinhas brasileiros participaram da famosa captura de Monte Castelo e outras operações estratégicas.
O autor enriquece o relato com depoimentos de veteranos, arquivos históricos e fotografias, permitindo aos leitores compreender a vida cotidiana dos soldados e a complexidade da guerra. Barone não apenas lança luz sobre eventos históricos, mas também presta homenagem aos pracinhas, destacando sua bravura e o legado de sua participação. O livro é leitura essencial para qualquer um que queira entender melhor o papel do Brasil no conflito global, abordando respeitosa e meticulosamente o envolvimento do Brasil, ao mesmo tempo em que incentiva a reflexão sobre a memória e o reconhecimento dos veteranos da FEB em nossa história.
O livro 1942: O Brasil e sua Guerra Quase Desconhecida, escrito por João Barone, é estruturado em três capítulos, precedidos por um prefácio e divididos em vários subcapítulos que organizam e aprofundam cada tema. É uma obra rica em detalhes e revelações históricas. O prefácio se destaca por si só, com o autor compartilhando sua experiência pessoal e frustração com a omissão de seu pai sobre sua participação na guerra, o que despertou seu interesse em desvendar o papel do Brasil neste conflito global. Este relato inicial estabelece uma conexão íntima e emocional que perdura por toda a narrativa.
A escrita do autor é educativa e objetiva. No início, ele declara claramente o propósito do livro, apresentando personagens e contextos históricos que pavimentaram o caminho para a entrada do Brasil no conflito. O layout, detalhado e organizado, merece elogios, pois facilita o acompanhamento de fios históricos e entrelaça eventos paralelos de uma forma visualmente agradável.
O autor assume uma postura crítica sobre o governo de Getúlio Vargas, abordando o viés autoritário de seu regime. Ele não hesita em usar o termo “ditador” para descrever Vargas, destacando suas ações antidemocráticas durante um período de incerteza. Esta análise política acrescenta profundidade à obra, ajudando os leitores a entender as contradições de um governo que se alinhou com poderes democráticos enquanto mantinha uma ditadura em casa.
Uma das maiores contribuições do livro é sua galeria de fotos. Estrategicamente colocadas, essas imagens dão vida às cenas descritas, proporcionando uma imersão visual e histórica que aprimora a experiência de leitura. Um exemplo são as dificuldades de comunicação enfrentadas pelos soldados brasileiros, poucos dos quais falavam inglês, um desafio enfrentado pela assistência americana com armas, treinamento e traduções estratégicas, uma colaboração crucial para o sucesso operacional.
O autor apresenta o contexto geopolítico da época, como a fuga de Albert Einstein da Alemanha e sua famosa carta a Roosevelt, alertando sobre uma ameaça nuclear. Esse episódio impulsionou o Projeto Manhattan, que levou à criação da bomba atômica. Dessa forma, o autor conecta o papel do Brasil aos eventos mais amplos da guerra, imergindo o leitor em um panorama global.
O período pós-guerra é tratado com sensibilidade, revelando a negligência de Vargas com os heróis brasileiros. Os soldados, conhecidos como pracinhas, retornaram ao Brasil desarmados e proibidos de usar suas medalhas e uniformes da Força Expedicionária Brasileira (FEB), uma tentativa do governo de controlar a opinião pública e impedir possíveis revoltas. Além disso, os veteranos de guerra não receberam o apoio necessário para lidar com o trauma físico e psicológico resultante do combate.
1942: O Brasil e sua Guerra Quase Desconhecida também destaca a ignorância coletiva que se formou após o fim do conflito. Em pesquisa recente realizada em uma universidade, a maioria dos estudantes desconhecia a FEB, chegando a confundir sua sigla com uma federação espírita. Essa constatação revela uma falha na preservação da memória histórica da FEB, crítica que o autor mantém ao longo do texto. O livro também relembra o custo financeiro da guerra para o Brasil, detalhando o alto preço pago pelo país por seu envolvimento: cerca de 21 bilhões de cruzeiros, uma dívida quitada em 12 anos. Por fim, o autor reflete sobre os uniformes dos pracinhas, que combinavam trajes brasileiros com peças fornecidas pelos Estados Unidos, imagem simbólica da aliança e da resiliência nacional.
No epílogo, o autor reflete sobre os lugares por onde os soldados brasileiros passaram e a história dentro dessas regiões, sugerindo que o tópico justificaria um segundo livro, dada a riqueza de histórias. Ele também critica o governo italiano por se recusar a doar a terra onde fica o monumento em homenagem aos pracinhas, uma prática comum para nações aliadas.
1942: O Brasil e sua Guerra Quase Desconhecida é uma leitura essencial para quem busca entender o papel do Brasil na Segunda Guerra Mundial e as consequências internas dessa participação. A obra resgata uma memória quase esquecida e abre portas para reavaliar o impacto da guerra no país e em seus soldados, se posicionando como um marco na literatura histórica brasileira.
Referência: BARONE, João. 1942: O Brasil e sua guerra quase desconhecida. Brasil: HarperCollins, 2018.
Matheus Araújo
Matheus é empreendedor na Araujo Media, onde atua como CEO e Diretor de Criação. Ele compartilha análises em seu blog pessoal "blog.matheusaraujo.me" e atualmente está cursando Publicidade e Propaganda. Além disso, é apaixonado por história, em especial a do Brasil, o que o levou a se tornar fundador e editor do portal Brazilian History.